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06 janeiro 2010

A Mesa Voadora

Autor: Luis Fernando Veríssimo
Editora: Objetiva
Data: 2001
Resenha: por Agatha Abreu


“Estamos no topo da cadeia alimentar dos bichos de sangue quente e somos da categoria dos predadores: comemos de tudo, da baleia ao escargot. Assim o escritor analisa a espécie, nos ajuda a compreender fomes diversas - e alivia culpas, se elas ainda existirem. Sim, Veríssimo é especialista no assunto. Na cozinha só entra para abrir geladeira, mas sabe comer. Delicia-se com bravos minestrones, carnes malpassadas, tortas sofisticadas ou pastéis de beira de estrada. Sorte a nossa, porque depois de comer tanto e tão bem ele ainda escreve, deliciosamente, sobre experiências viscerais. Ou alguém já descreveu melhor do que o Veríssimo aquele encantamento que sentimos, ah sim, quando a gema se desprende da clara e, viscosa, quente, se desmancha sobre os grãos de arroz? Seus textos também podem nos embriagar, de tanto rir, se o assunto for os tintos mais apropriados para aquele jantar de sexta à noite, ou a ressaca do dia seguinte - Veríssimo aposta que na sua adolescência as bebedeiras tinham grandeza, e na luta desigual entre o cuba-libre e seu instinto de preservação, o primeiro ganhava sempre”.

Acredito que esse texto de abertura presente no livro já seria o suficiente para fazer qualquer mortal sentir vontade de lê-lo. Ainda mais, se o mortal em questão, for amante da gastronomia que nos rodeia tanto no cotidiano, quanto em ocasiões especiais, pois Veríssimo conseguiu unir o útil ao agradabilíssimo: boas crônicas de humor sobre comida.

Colocando o ato de comer como uma forma extrema de possuir o que queremos, o autor conta casos e expõe situações das quais quase todos já tivemos a chance de vivenciar um dia em nossas vidas.

A crônica O buffet, que inicia esse mundo “gastronômico-literal”, mostra de forma clara aquilo que sempre insistimos em esconder: o principal motivo pelo qual vamos as festas é a comida. Encenando um manual de “como se portar em um buffet se quiser comer”, o autor ensina macetes para se satisfazer com sucesso, como levar dois pratos fingindo que um será para o acompanhante, por exemplo.

Outra crônica que merece destaque, principalmente para aqueles que gostam de comidas sem frescura, é a crônica União, gente. Fiquei impressionada ao saber que não só eu, ou Veríssimo, mas muitas pessoas são contra àquela coisinha verde na comida, ou salsinha, como é mais conhecida: “Minha rebelião contra a salsinha ganha adeptos e, a julgar pela correspondência que recebo, esta era uma causa à espera do primeiro grito. Só não conseguimos ainda nos organizar e partir para a mobilização - manifestações de rua, abraços a prédios públicos - porque persiste uma certa indefinição de conceitos. Eu sustento que “salsinha” é nome genérico para tudo que está no prato só para enfeite ou para confundir o paladar, o que incluiria até aqueles galhos de coisa nenhuma espetados no sorvete, o cravo no doce de coco, etc. Outros, com mais rigor, dizem que salsinha é, especificamente, o verdinho picadinho que você não consegue raspar de cima da batata cozida, por exemplo, por mais que tente. Outros, mais abrangentes até do que eu, dizem que salsinha é o nome de tudo que é persistentemente supérfluo em nossas vidas, da retórica à porta-aviões, passando pelo cheiro-verde. Meu conselho é que evitemos a metáfora e a disputa semântica e, unidos pela mesma implicância, passemos à ação. Para começar, sugiro um almoço informal com o presidente da República, em Brasília, para discutir a gravidade da questão, que certamente não merece menos atenção do que as novelas da Globo”. E ele não pára por aí, pois em Salsinha 2, a história continua com referências em línguas diferentes. Realmente, sensacional.

Por fim, acho que o ápice de identificação com o ser humano está em O come e não engorda. Existe pessoa mais invejada do que o come e não engorda? Veríssimo afirma que ele é seu ídolo, já que sonha em emagrecer e depois nunca mais engordar, por mais que tente. O autor conclui ainda, que ele seja de outra espécie “Não é humano. Pode até ser melhor do que nós, um aperfeiçoamento, mas não é humano. Afinal, o que une a humanidade é o seu apetite comum”. E eu concordo. Quem não morre de inveja quando vê aquela amiga, ou aquele primo, que comem esganadamente - e ainda repetem sobremesas - sem remorso algum? Veríssimo conseguiu cutucar nossa ferida. Mas ainda assim, nos consola e arranca aplausos. Mostra que não estamos sozinhos.

Confesso que escrever sobre Veríssimo me dá certo prazer, visto que amo o seu modo de escrever com humor de uma forma totalmente brilhante. Mas isso não me torna suspeita nesse caso, afinal este livro é realmente bom. Desafio alguém a ler não se identificar, pelo menos, com sete das crônicas apresentadas.Pode servir como livro de cabeceira, ou como manual de comportamento. Isso varia de acordo com o grau do passado canibal que existente em cada um. Mas que as risadas são garantidas, ah, isso elas são.
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Comédias para se Ler na Escola


Autor: Luis Fernando Veríssimo
Apresentação e seleção de Ana Maria Machado
Editora: Objetiva
Data: 2001
Resenha: por Agatha Abreu


Em Comédias para se Ler na Escola ocorre uma dobradinha que não poderia ser melhor. De um lado, as histórias de um mestre do humor. Do outro, o olhar perspicaz de uma das mais talentosas escritoras do país, especialista em literatura para jovens. Ana Maria Machado, leitora de carteirinha de Luis Fernando Veríssimo, releu durante meses textos do autor, e preparou uma seleção de crônicas capaz de despertar nos estudantes o prazer e a paixão pela leitura.

E assim foi. Não há criatura que não leia este livro e não se encante com a genialidade e o humor apaixonante de Veríssimo. Afinal, Veríssimo tem a “fórmula” para cativar em sua leitura: textos curtos, fáceis, divertidos, escritos em linguagem clara e parecida com a que a gente fala todos os dias.

A seleção de Ana neste livro permite ao leitor mergulhar no universo das histórias e personagens de Veríssimo prestando atenção nos múltiplos recursos deste artesão das letras. A habilidade para os exercícios de linguagem ou de estilo, por exemplo, pode ser conferida em crônicas como “Palavreado”, “Jargão”, “O ator” e “Siglas”. E para quem é fã da língua portuguesa, a crônica “Papos” vai tirar boas risadas.

Em seu sensível texto de abertura, Ana “desafia” os leitores: “Depois de ler este livro, duvido que algum jovem ainda seja capaz de dizer, sinceramente, que não curte ler. E, para não ficar achando que só gosta deste livro, que leia os outros do autor. Aposto que, em sua maioria, os novos leitores vão se viciar em livro e sair procurando outros textos, de outros autores. Com vontade de, um dia, chegar a escrever assim. Quem sabe? O Veríssimo nunca pensou que ia ser escritor quando crescesse. Seu negócio era mesmo um bom solo de saxofone, instrumentos em que ainda arrasa, escondido. Mas com essa história de ser músico, desenvolveu tanto o ouvido que acabou assim: hoje ele ouve (e conta para nós) até o que pensamos, sentimos e sonhamos em silêncio. Em qualquer idade.”

E claro, ela está certíssima. Pois a originalidade e o humor de Veríssimo, dessa Forma, funcionam como o melhor antídoto para quem não gosta de ler - ou melhor, para quem não descobriu, ainda, o prazer e a aventura que um livro pode proporcionar.
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Minhas Mulheres e Meus Homens


Autor: Mario Prata
Editora: Objetiva
Ano: 1999 (atualmente na 4ͣ edição)
Resenha: por Agatha Abreu


Embora o título seja duvidoso (e boa parte das pessoas para as quais indiquei o tenha achado suspeito), Minhas Mulheres e Meus Homens não se trata de um livro gay.

Mario Prata ao folhear a sua agenda telefônica (segundo ele, com mais de 600 nomes) percebeu que havia vivido alguma situação curiosa com cada um deles. Então, resolveu selecionar os melhores “casos” (230 para ser mais exato) com os seus 120 homens e suas 110 mulheres, e reservou-lhes uma minicrônica em Minhas Mulheres e Meus Homens.

Prata relembrou, dentre todos os ilustres, Lucélia Santos aos 18 anos; Marília Gabriela; Millôr Fernandes; Sônia Braga; Toquinho; Vinícius pelado com o vento frio batendo na bunda; Ziraldo; baixaria num show de João Bosco; Lima Duarte admirando os peitinhos de uma menina de 15 anos; Hebe Camargo ajudando alguns amigos e, claro, também dedicou suas histórias aos anônimos em passagens igualmente divertidas e desconcertantes.

Narradas sempre com muito bom-humor são histórias realmente inacreditáveis. Mas o autor jura que "é tudo verdade". Organizadas na forma de verbetes, suas histórias podem ser lidas de várias maneiras. Em ordem alfabética, cronológica ou fora de ordem. Qualquer que seja o modo, impossível escapar à sedução de Mario Prata, um divertidíssimo contador de histórias. Mas vale um aviso àqueles que o forem ler daqui para frente: não aconselho que a leitura seja feita em locais públicos como metrô, bancos de praça, filas de banco e etc. A chance de você cair na gargalhada e “pagar mico” é enorme.
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Ser santista e morar em Itanhaém

(Santos)














Ser santista e morar em Itanhaém
É ser um santista afastado;
É ao invés do Tu, falar o R mais puxado;
É preferir o sossego ao Moby Dick lotado.

Ser santista e morar em Itanhaém
É com várias praias se identificar;
É escolher o mar em que vai se banhar;
E ir à praia só quando o calor está de matar.

Ser santista e morar em Itanhaém
É esquecer-se da média para pedir um pãozinho;
É deixar o ônibus para andar de Bondinho;
É encontrar os amigos na Capela do Vinho.

Ser santista e morar em Itanhaém
É não saber andar muito mais do que o Gonzaga;
É achar os canais uma tremenda furada;
É ter que trocar a orla da praia pela calçada.

(Itanhaém)














Ser santista e morar em Itanhaém
É não achar São Vicente inferior;
É muitas vezes ser taxado de ‘vindo do interior’;
É achar que morar longe da praia é um horror.

Ser santista e morar em Itanhaém
É ser caiçara na veia;
É acharem que você mora numa aldeia;
É ter orgulho das esculturas de areia.

Ser santista e morar em Itanhaém
É não conhecer nenhuma das histórias direito;
É achar que um paulista é sempre suspeito;
É ao invés do Santos, ter outro time do peito.

Ser santista e morar em Itanhaém
É passar o inverno em ‘Santos do Jordão’;
É ter Santos impresso na certidão;
É ter Itanhaém para sempre no coração.




(poema feito para a disciplina de Língua Portuguesa
da Católica UNISANTOS. O tema era "Ser Santista".
Como nasci em Santos mas morei boa parte da
minha vida em Itanhaém 'personalizei' a proposta.)

 

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