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11 julho 2015

One night stand

Era tarde, o pub estava cheio e ela já estava cansada de cantadas baratas quando ele apareceu. Mas ao invés de elogios superficiais, ele se ofereceu para pagar uma bebida pedindo que, em troca, ela pudesse conversar um pouco com ele. Parecia uma cilada vinda de um par de olhos claros, mas ele prometeu que a deixaria livre para ir embora no momento em que quisesse. Algum tempo depois, os dois estavam rindo sobre histórias da vida e ela havia notado que a cada vez em que sorria, ele parecia vidrado. Lembrou da infinidade de vezes em que ela ouviu homens-ventríloquo dizerem "você tem um sorriso bonito", apenas numa tentativa de se aproximar dos lábios dela. Mas ele não. Todos os sinais estavam ali, gritando, enquanto ele tentava manter um perfil de lorde. Ela riu divertida, vendo a magia acontecer mais uma vez e resolveu perguntar. Na primeira tentativa, ele insistiu que não era nada. Mas na segunda, acabou contando. "É que eu não queria parecer clichê, porque tenho certeza de que você sempre ouve isso...mas seu sorriso é lindo, arrisco dizer que é o mais bonito que já vi. Cada vez que você sorri aqui parece que ilumina um pouco o lugar. Não sei, é como se você sorrisse com uma verdade, como se você fosse a pessoa mais feliz do mundo, sabe? E acredito que as pessoas quando te olham devem pensar que só você merece ser feliz mesmo, porque é encantador". As palavras pareciam sair dele com a mesma verdade que ele sentia vir do sorriso dela, enquanto ele tentava, sem sucesso, esconder que estava sem jeito. Quando ela poderia imaginar que alguém tentaria traduzir seu sorriso daquela forma? A vida dela às vezes parecia uma novela, pensou. E algumas cervejas e conversas depois, ela descobriria que era tão roteirizada que, claro, aquela era a última noite dele na cidade e na manhã seguinte ele iria continuar sua viagem por outros países. Ela riu. Já que era para imitar a ficção, então essa seria uma daquelas noites capazes de durar um episódio inteiro. Ao menos até o dia seguinte.
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26 maio 2015

Última vez

Não vou mais me envolver, ela disse. Olhava o reflexo no espelho, tentando acreditar naquelas palavras. Quantas vezes já havia prometido para si mesma que era a última vez? Começou a rir. Sempre surgiam novas pessoas, novas histórias. Não importava o quanto endurecesse seu coração ou o quão grossa fosse a armadura. Mais cedo ou mais tarde, ela sabia, aquele sorriso avisaria o que estava por vir. E quando menos percebesse, um beijo traria um recado especialmente para a razão: vale o risco. De novo.
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17 maio 2015

Ela


Ela te via além da sua casca.
Ela te enxergava lentamente, enquanto todos sempre te viam rápido demais.
Ela te assistia dormir.
Ela te dava amor ao acordar.
Ela te fazia cafuné.
Ela te beijava a testa com ternura, mas também te arrancava o fôlego quando queria.
Ela te roubava beijos, até mesmo enquanto você dormia.
Ela cozinhava para você.
Ela gostava de te ter como assistente na cozinha.
Ela te fazia rir com bobagens e se iluminava quando era você quem a fazia dar risada.
Ela te fazia ver a vida com outros olhos.
Ela te fazia ver que o amor podia valer a pena.
Ela tinha a mania de rir de tudo e era no sorriso dela que você encontrava forças.
Ela não mascarava os próprios defeitos e aceitava os seus.
Ela não precisava de maquiagem para ser linda, mas te encantava com aquele batom.
Ela tinha o gosto musical parecido com o seu.
Ela gostava de vestir suas camisetas.
Ela gostava de cerveja e bebia com você.
Ela te fazia se sentir especial e amado de um jeito que ninguém tinha sido capaz.
Ela te entendia e te ajudava em qualquer coisa.
Ela era sua parceria e melhor amiga.
Ela se dava bem com a sua família, do tipo dançar com a sua mãe no meio da sala.
Ela era seu conforto nos dias difíceis.
Ela te fazia esquecer os problemas com um olhar.
Ela te acalmava num abraço.
Ela cuidava de você como sempre quis ser cuidada.
Ela se espremia para te dar mais espaço na cama ou embaixo do guarda-chuva.
Ela só dormia tranquila depois de saber que você já estava a salvo em casa.
Ela sussurrava ao teu ouvido.
Ela tinha o apetite sexual que todos os caras sonhavam em encontrar.
Ela apertava sua bunda de vez em quando só pra ver a sua cara.
Ela era o seu melhor sorriso numa manhã preguiçosa.
Ela te mostrava que seu mundo era melhor desde que ela resolveu entrar.
Ela se entregava de corpo e alma para você.
Ela era a mulher da sua vida.

Mas você a perdeu.
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05 maio 2015

Them

Eles tinham tudo o que duas pessoas precisam para ser feliz. Eles não só se gostavam, como também eram melhores amigos. Eles se divertiam com pouco. Eles davam risadas juntos. Eles achavam que estar ao lado do outro era o suficiente para levantar qualquer programação chata. Eles podiam ser eles mesmos o tempo todo. Eles tinham uma loucura compartilhada e achavam que só eles podiam se entender. Eles conversavam muito e sobre tudo. Eles admiravam um ao outro e sentiam orgulho das conquistas de cada um. Eles gostavam da família um do outro. Eles gostavam de sair com os amigos um do outro. Eles cozinhavam juntos. Eles assistiam filmes juntos. Eles bebiam cerveja juntos. Eles tomavam café da manhã vendo videoclipes e cantando. Eles trocavam músicas entre si e tinham uma playlist só deles. Eles faziam careta. Eles se beliscavam e se mordiam. Eles trocavam carinhos. Eles davam um jeito de se encostar mesmo que estivessem separados no carro com um dos dois no banco de trás. Eles não só dormiam de conchinha, como também tinham seu próprio jeito de dormir juntos. Eles achavam que nenhum perfume do mundo era melhor do que a nuca do outro. Eles se encaixavam no beijo, no sexo e de mãos dadas de um jeito perfeito. Eles se abraçavam de um jeito verdadeiro. Eles se olhavam demoradamente como quem enxerga a alma. Eles se protegiam e cuidavam um do outro. Eles tinham gostos e jeitos parecidos, e até o que era diferente se completava. Eles sabiam como era bom ter um ao outro no fim do dia. Eles tinham a certeza de que ser livre de verdade...era poder escolher se prender a alguém assim.
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04 maio 2015

Insônia

Não conseguia dormir. O quarto era um silêncio sepulcral, mas o coração gritava. Gritava de saudade. Gritava pedindo para sair dali. A mente, em conjunto, trazia uma série de memórias, mostrando onde queria estar. Reivindicava por domingos de manhã, cama desarrumada e o corpo dele para se aninhar. Pedia pelo beijo, pelo cheiro, pelo olhar que não cansa, pelo abraço que protege. Pedia por ele.
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02 maio 2015

Menina-Perfeita


Ela sempre soube que o modelo de menina-perfeita não tinha o seu número. Via as amigas em busca de serem lindas, descoladas, sempre tentando se encaixar no grupinho atual e negociando qual o próximo menino em que iam dar o bote. Enquanto isso, ela queria ser inteligente, queria melhorar seus desenhos e textos, jogar videogame e passar horas gravando fitas K7 com as seleções de músicas mais cuidadosamente selecionadas do mundo.

Ah, a música. Esse item, aliás, sempre teve uma participação especial na vida dela. Ela aprendeu a gostar de Bon Jovi e Alanis Morissette quando ainda era um cotoco, aos cincos anos de idade. Seguiu ouvindo The Cranberries, R.E.M e mais toda uma herança musical que vinha do pai, da mãe, dos tios, dos primos mais velhos. Tudo isso aprimorado com as coisas novas que o bom filtro do seu ouvido separava das rádios. Ela e o walkman eram inseparáveis e o banheiro presenciou os melhores covers da história!

Mas, sempre foi difícil encontrar pessoas que davam importância para esse tipo de coisa. Muito antes do narrador de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain chegar a essa conclusão, ela já havia descoberto que eram “tempos difíceis para os sonhadores”. Por isso, criou mecanismos de defesa como ninguém e escolheu ser mais brother dos meninos, afinal, era muito mais interessante ficar na rua e falar palavrão, do que ouvir sobre esmaltes ou o que estava na moda naquela estação.

Então ela jogou bola, subiu em árvores, correu na rua, entrou num bate-cabeça, foi ao estádio de futebol, leu HQ’s, assistiu filmes de ação, foi a bares, aprendeu sobre carros, arrotos e cerveja e, aos poucos, foi se tornando uma peça única – dessas que a gente não sabe o valor que tem até um perito descobrir a raridade e querer para o antiquário. E aconteceu. Os anos passaram e ela viu os valores que a excluíam lá atrás se tornarem os mais procurados por todo mundo hoje.

De repente, todos falavam sobre mulheres independentes, que gostam de cerveja, que assistem futebol, que são parceiras dos homens. De repente, ser ela mesma virou a opção mais “cool” do que se podia ser. Porque enquanto tinha gente tentando mudar para se encaixar, ela simplesmente podia seguir sendo como sempre foi. Porque ela sempre soube que o modelo de menina-perfeita não tinha o seu número...só não imaginava que um dia fosse gostar tanto de não vesti-lo.

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19 março 2015

Missing

Sentir saudade de quem se ama é um bicho que consome. Que vai crescendo dentro do peito sem você perceber. Dia a dia ele toma espaço, se desenvolvendo conforme aumentam as milhas entre um coração e outro. Implanta lembranças e te faz reviver momentos em qualquer lugar, em que tudo o que você vive parece ter uma ligação com quem você queria estar. Até que você sente que esse sentimento já está presente em cada pedaço seu. Até que você ouve seu corpo inteiro gritar a falta que a outra pessoa faz.

E com a mesma intensidade que te traz um sorriso por lembrar das coisas que vocês viveram, a saudade é um parasita que te arrebenta com a dor intensa da ausência. Faz doer partes que você acreditava nem serem possíveis de sentir, da pele ao fio de cabelo. Faz você sentir um vazio que nada do que você coma é capaz de preencher. Você e a distância viram inimigos mortais e você começa a travar uma luta interna para aguentar as pontas e não largar tudo pelo único antibiótico que conhece: voltar para o seu amor.

Mas quando não há nada que se possa fazer, é preciso aprender a conviver com esse sentimento. Conversar baixinho com ele, explicar o quanto dói. Dizer que ele não precisa ir embora se vocês puderem viver em paz enquanto você estiver longe. Mas a saudade é como uma criança mimada. Você vai conseguir ter seus momentos tranquilos enquanto ela estiver dormindo, mas vai ter que se preparar para as birras esporádicas...pequenas e grandes manhas que vão arrancar muitas lágrimas até a sua volta.
 

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