19 março 2014

Ansiedade


Sou ansiosa. Não digo que nasci assim porque eu realmente esperei completar os nove meses para sair da barriga da minha mãe. Mas quando encarei este mundo como ele é, fiquei. Era novembro? Já tinha escolhido o presente de Natal há meses. Ia ter excursão na escola? Mochila semi-pronta (faltando só o lanche) com muitos dias de antecedência. A amiguinha vinha dormir em casa no final de semana? Uma lista com ideias de brincadeiras certamente estava feita.

Alguns dizem que crianças são desse jeito, inquietas, planejando mundos em que querem viver, sempre com a cabeça no futuro. Para o ansioso, isso é algo que não passa depois da infância. Aliás, só piora. Porque a ansiedade não se limita a eventos, ah, não. Ela atormenta outros setores da vida, como o sono. Dissecar a rotina e refletir sobre a sua vida antes de dormir passa a ser muito mais interessante, vejam só, do que descansar.

"Você sabe que chegou ao cúmulo da ansiedade quando fica ansiosa até pra ansiedade passar"
(Tati Bernardi)


Para o ansioso, uma conversa também pode ser algo complexo, em que discussões mais importantes possuem um "pré" e um "pós". Sim, se você é ansioso e precisa discutir algo com alguém, então você manja de roteiros, amigo. Porque nós pensamos nas falas e elaboramos possíveis respostas - o que toma conta do "pré". Mas como as pessoas nunca seguem o script que criamos, chegamos à parte dois, das possibilidades perdidas - o que controla o "pós". Depois da conversa, repassamos o diálogo mil vezes, pensando no que poderíamos ter "falado melhor" em determinado momento.

E se já era possível sofrer antigamente com coisas simples, como nunca ficar 100% convencido de que trancou a porta da sala ou pensar em todas as possíveis merdas feitas ao ouvir um "preciso falar com você", imagine a evolução na ansiedade que a tecnologia nos proporcionou. Perder uma chamada de um número desconhecido, por exemplo, é capaz de nos afligir por um longo período. Isso sem falar nos infinitos problemas trazidos pelas redes sociais, como o mini fim do mundo que começa quando a mensagem no WhatsApp ganha o segundo visto e ninguém te responde.

Ah, que doce inferno.

Mas, nem tudo está perdido. Há pessoas ansiosas simplesmente brilhantes. Thomas Stearns Eliot, poeta modernista, dramaturgo e crítico literário inglês, era um cara ansioso e ganhou o Nobel de Literatura em 1948. O matemático Paul Dirac, ainda mais ansioso que Eliot, também ganhou o Nobel de Física em 1933. Se por um lado os estudiosos consideram a ansiedade como o mal do século 21, pelo outro todos dizem que, sim, ser ansioso é tão normal quanto ficar cansado (eu que também tenho muito sono, acho que não escapo de nenhuma pesquisa).

Então, é possível tirar proveito dessa história. Você nunca verá um ansioso que não se preparou para o futuro, por exemplo. Ou, mais especificamente, que não se preparou para o pior no futuro. Isso faz com que a gente ou tenha razão quando acontecer (auto-afirmação é positivo) ou fique feliz quando for o contrário (sensação de alívio é ainda melhor). No trabalho, pessoas ansiosas também se destacam, pois tendem a ser muito responsáveis e conscientes - além de errarem menos por se cobrarem mais. Em outras palavras, se tudo der errado ainda dá para almejar a foto de funcionário do mês? Dá.


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